Tesouro no Caribe, Anguilla conquista com sossego e praias desertas
Pequena ilha proporciona verdadeira sensação de refúgio com ajuda de resorts luxuosos à beira-mar, experiências autênticas e gastronomia fresca com peixes de águas cristalinas

Imagine praias desertas banhadas por águas calmas que refletem um azul-turquesa quase inacreditável. Agora adicione sol o ano inteiro, resorts que fazem jus à palavra luxo e uma gastronomia fresca que aproveita o melhor do mar do Caribe. Esse destino tem nome: é Anguilla, ilha caribenha onde descanso é palavra de ordem e o senso de isolamento é real.
Fora da rota dos cruzeiros e sem um apelo festeiro, Anguilla não tem cinemas, shoppings, cassinos e edifícios. É conhecida exatamente pelo contrário: sossego, dias embaixo do sol e mergulhos refrescantes em praias paradisíacas sem ninguém à vista.
É um local onde podemos ficar uma semana desfrutando o mar sem fazer nada ou desbravar joias "escondidas" por meio de um convite gastronômico e cultural. A sugestão é misturar as duas propostas, como fiz para a 10ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia. De fácil o, com voos diretos de Miami em um trajeto de apenas três horas, a ilha pode ser o seu próximo destino - e um dos melhores.
O pequeno território fica no centro do Caribe, a cerca de 240 km a leste de Porto Rico e vizinha de Saint Martin, que possui um lado holandês e outro francês. Anguilla, por sua vez, foi colonizada pelos britânicos. Assim, o volante no lado direito do carro sobreviveu e o inglês ficou como língua oficial.
Águas transparentes e mergulhos

O mar tranquilo e, muitas vezes transparente, é sinônimo de mergulho. Em Anguilla, temos a opção de desbravar as águas tanto com cilindro quanto em estilo livre. Ambas as modalidades podem ser feitas em um eio de barco, que vale muito a pena para conhecermos a ilha a partir de uma perspectiva deslumbrante.
Várias empresas oferecem eios e os resorts ajudam na missão. A tripulação nos leva para diferentes baías e praias ao redor da ilha, que tem apenas 91 km² e 15 mil habitantes. Para mergulhos com cilindros, nos afastamos um pouco da costa, o que gera um misto de medo e fascínio, mas que guarda recompensas grandiosas, como encontros com arraias, lagostas, peixes-papagaios e tartarugas marinhas.
E já que estamos no mar, por que não almoçar “no meio do nada”? É o caso de Sandy Island, restaurante simples em um banco de areia que é imperdível. Aqui, a definição de paraíso é levada ao pé da letra. Enquanto a lagosta é grelhada, indico tomar um banho de mar, que fica mais bonito com o ar do tempo. Além da lagosta carnuda, à mesa chegam camarões ao rum e mahi mahi, peixe local.
Atrações e paradinhas encantadoras
De volta em terra firme, uma das atividades mais tradicionais é o Moke Tour, forma divertida de conhecer a ilha a bordo de um carrinho parecido com um buggy. Com ele, percorremos vários pontinhos que fazem parte da história de Anguilla.
Uma das paradas é o The Arch, formação de falésias no formato de um arco. A reação mais comum é nada menos do que um “uau”. É daqueles pontos íveis tanto da estrada, apenas para observação, quanto em paradinhas de barco com mergulho - cruzar o arco a nado é um dos pontos altos da viagem.
No meio do caminho, não perca o Valley’s Barbecue, uma vendinha à beira da estrada em South Hill que faz suculentas costelas e jerk chicken de forma totalmente descontraída, mas incrivelmente deliciosa.
Depois, curtir uma tarde na praia de Rendezvous Bay é espetacular. Trata-se de uma das praias mais famosas da ilha, mas que nos recebe de um jeito peculiar: não há absolutamente ninguém ao nosso redor. Ela se alonga por mais de três quilômetros e é ideal para caminhadas na areia branquinha.
A parada final do eio pode ser no Zemi Beach House, hotel na praia de Shoal Bay que acomoda um dos spas mais interessantes do Caribe. Originária da Tailândia, toda a estrutura tem mais de 400 anos e atravessou meio mundo até ser montada na ilha, onde são oferecidas terapias exclusivas, sessões em banho turco e piscinas aquecidas intimistas.
Após o relaxamento, o cair da noite é convidativo para uma ida ao The Dune Preserve, em Rendezvous Bay. À beira da praia, o bar é palco para apresentações de Bankie Banx, um ícone local que é cantor de reggae e folk que começou a carreira nos anos 1960. “Ouvi falar de Bob Marley em 1975”, conta Banx.
O ambiente é animado, perfeito para drinques com rum e para aproveitar a música ao vivo. “A música se conecta às pessoas pelas frequências. Mesmo que você não entenda o idioma, você ainda compreende”, diz Banx após uma apresentação que fechou minha noite com chave de ouro.
Gastronomia fresca e frutos do mar saborosos
A cultura vibrante do Caribe também reside na comida. Apesar de pequena, Anguilla tem ótimas opções gastronômicas, tanto dentro quanto fora dos hotéis. Para um almoço tradicional, indico o Tasty’s Pov, do chef e proprietário Dale Carty, que viveu na pele as transformações da ilha com a chegada do turismo.
“Antes de 1980, quando o turismo começou, o único modo de vida era a coleta do sal ou a pesca. Acho que é por isso que nos tornamos um lugar rico em comida e também muito ligado à cultura, potencializado pelo fato de não haver muita influência externa. Então tivemos que encontrar uma maneira para criar o nosso próprio modo de vida”, declara o chef.
Na mesa do seu restaurante somos presenteados com pratos bem tradicionais, como conch, que é a carne da concha servida frita ou em ceviches.
Em outro dia, para um almoço quase pé na areia e mais sofisticado, a dica é o 20 Knots, no Zemi Beach House, que serve uma culinária europeia com toques locais. A refeição pode começar com um Johnny Cake, bolinho frito que é um dos símbolos do Caribe, feito geralmente com farinha de milho. Para lembrar um pouco de Portugal, uma cumbuca de amêijoas acompanhada de vinho branco foi a minha escolha.
Com a chegada da noite, outros endereços entram em evidência, como o Savi Beach Club, em Meads Bay. Relativamente novo, funciona como um beach club e tem uma atmosfera requintada. A cozinha é uma mistura de bar de sushi com peixes frescos e grelhados. A primeira pedida pode ser um rolinho crocante de lagosta temperado com molho de alho e gengibre, seguido por gyoza de carne de porco e camarão. Tataki de salmão e combinados também entram na conta.
Outro point que merece destaque no roteiro é o Blanchards, também em Meads Bay, com um quintal pé na areia que é uma graça. Liderado por um casal de norte-americanos, o restaurante serve uma gastronomia caribenha cheia de criatividade.
É ótimo local para comermos lagostim na brasa e camarões crocantes sem erro, com tudo bem temperado. A carta de rum também chama a atenção: são mais de 200 rótulos, que podem ser experimentados puros ou em um punch.
Belmond Cap Juluca: resort à beira-mar
Quanto à estadia, minha escolha foi o Belmond Cap Juluca, sempre presente em listas de melhores hotéis do Caribe e do mundo. Sinônimo de boa gastronomia e de serviço caprichadíssimo, o hotel fica em uma baía reclusa, a Maundays Bay, se esparramando em várias construções brancas e baixas ao longo da faixa de areia.
As cúpulas arredondadas são uma ode ao estilo grego-mourisco e há 113 acomodações, que se dividem em quartos, suítes e villas. Estas últimas são ideais para uma família, já que proporcionam uma estadia pé na areia com variedade de quartos, sala de jantar e muita exclusividade.
O hotel nos proporciona uma das vivências mais paradisíacas possíveis, com a hipnotizante água do mar à nossa vista e disposição. Uma ampla gama de atividades são oferecidas, incluindo snorkel, caiaque, pescaria e aulas de tênis, mas relaxar na piscina já é um baita programa.
O spa é outro ponto alto. Operado em parceria com Guerlain, ele é todinho de aparência marroquina, sendo um convite para esquecermos o relógio através de massagens especiais e banhos esfoliantes com sal da ilha.
Por fim, a gastronomia não fica de fora. Restaurantes, bares e até cabana na praia estão entre as opções, mas destaco o Ushu, peruano, e o Pimms, caribenho. O primeiro é melhor desfrutado no almoço e com um pisco sour em mãos. Para acompanhar, o ceviche fresco vem com lagostim temperado com pimenta e sal.
Para o jantar, o Pimms é pedida certa para delícias locais, como croquete de mahi mahi com banana da terra, atum selado e, de principal, um peixe espada dry aged de sabor marcante. O melhor? Tudo isso com uma vista lindíssima para a imensidão do horizonte.
Raio-X de Anguilla
- Onde fica? No Caribe, a 240 km a leste de Porto Rico e a 15 km de St. Martin. A partir do Brasil, é necessária conexão em algum aeroporto, principalmente nos Estados Unidos, como em Miami e Atlanta;
- Qual a língua? O inglês é a língua oficial;
- Qual a moeda? Dólar caribenho oriental, mas o dólar americano é amplamente aceito. Mas atenção: muitos lugares não aceitam cartão, então a melhor opção é carregar uma certa quantia de dinheiro em espécie;
- Qual o fuso horário? Uma hora a menos que o horário de Brasília;
- Necessita de visto? Portadores de aporte brasileiro não necessitam de visto para estadias de até 90 dias a turismo. Porém, é necessário visto se sua conexão for através dos Estados Unidos. Além de aporte válido, tenha em mãos comprovantes de reservas;
- Há taxa de visitação? Sim. Ao sair da ilha tanto por via aérea quanto marítima, adultos devem pagar uma taxa de US$ 28 em dinheiro em espécie;
- Qual a melhor época para ir? A ilha tem temperaturas agradáveis o ano inteiro. Dezembro a abril são os meses mais secos, com muito sol e temperaturas entre 25ºC e 30ºC, mas os preços costumam ser mais altos por conta da alta temporada. Uma boa opção é entre maio, junho e julho, com clima bom e preços melhores. Se puder, evite ir de agosto a novembro, a temporada de furacões.